Perspectivas (nona abordagem)
A mulher sentada à mesa desfruta do sabor ligeiramente
adocicado da torrada acabada de fazer. Permite-se um ligeiro cerrar dos olhos.
Assim embevecida solta um impercetível gemido de prazer. É nos momentos em que liberta os sentidos do
espartilho do dever divino, e só nesses momentos, que a Deusa-pagã-maior se
revela mulher. A sensualidade com que se entrega aos sabores, a plenitude do
estomago saciado, o desligar do mundo ligando-se a si mesma, faz com sinta um
arrepio que lhe desce ao ventre. Agora, com a pessoa certa e as circunstâncias
alinhadas com os astros, deixaria o seu corpo abandonar-se a carícias. Por
momentos imagina mãos hábeis manuseando os seus pontos sensíveis. Imagina essas
mãos demorando-se, espantadas, nesses pontos recém descobertos. Prazer sem
opressão ou domínio, apenas abandono. A Mulher-criadora acorda para a realidade
de forma desconfortável. Dois jovens machos, plenos de vitalidade pós pueril,
avançam ruidosos pelo estabelecimento em direção ao balcão. A Mulher-criadora
reconhece num dos jovens a cria masculina de uma Deusa-pagã-maior sua
conhecida. A mulher-feiticeira não tem dúvidas quando decide usar o seu poder.
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