Perspetivas (décima primeira abordagem)
A rapariga apercebe-se do desconforto dos Deuses. Pensa, talvez seja tarde demais. Gostava de ter poderes de mulher-feiticeira, fazer desaparecer os jovens adolescentes que se aproximam do balcão. Não sendo esse o caso resta-lhe enfrentar a tormenta. Com a vela de tempestade ao vento a rapariga manobra habilmente a situação. Numa jogada de antecipação dirige-se aos machos imberbes adivinhando-lhes o pedido. Com um gesto insinuador digno de prestidigitadora profissional oferece os croissants acabados de fazer. Adiciona-lhes creme de chocolate e uma lata de poção mágica, Cola original sem restrições. A estocada revela-se perfeita. Os dois jovens entregam-se, numa rendição incondicional, às mãos da Deusa precoce. Para a prestidigitação ser completa só falta fazê-los desaparecer. A ordem, mascarada de solicitude, é largada de maneira inocente, três palavras apenas, É para levar? Totalmente enfeitiçados, os príncipes em formação, anuem com jeito bovino. Tudo corre bem. Com o alvoroço controlado, a fúria dos Deuses dissipa-se perante o domínio da situação exercido pela jovem. No mesmo passe de magia a futura Deusa-pagã-maior fornece aos jovens as duas doses hipercalóricas. Entrega com uma mão, recebe com a outra. O valor a pagar também já tinha sido divulgado. Meio aturdidos com a solicitude eficiente da rapariga os jovens abalam, já não preocupados com os seus cetros luminosos, completamente ganhos pelo cheiro adocicado da guloseima disfarçada de pequeno-almoço. A saída dos machos imberbes faz-se silenciosa e apressada. A rapariga lança um último olhar aos jovens. A ingestão calórica ocupa agora as suas mentes irrequietas. Afastam-se de boca cheia e latas na mão. A rapariga-feiticeira, futura Mulher-criadora, está orgulhosa do seu domínio. Este tipo de controlo irá permitir-lhe muitos sucessos num futuro, que assim se adivinha, promissor.
Comentários
Enviar um comentário