Perspetivas (oitava  abordagem)

O mundo tem centros desconhecidos. O mundo dos adolescentes tem centros de grande intensidade. A energia gerada por esses centros pode mover o mundo assim como o pode destruir. A rapariga, projeto precoce de Deusa-pagã-maior, tem tremores de vidente incompleta. A leve penugem dos seus braços desnudados apresenta sinais de arrepio. A premonição capilar não é descabida e concretiza-se na imagem juvenil de dois machos imberbes em trejeitos desengonçados. O alarido por eles produzido é algazarra espontânea, encenação improvisada. Os jovens têm o odor de hormonas em desenvolvimento e espalham-no testando limites, demarcando terreno. São príncipes em formação, aprendendo a criar através  caos. Os seus ecrãs luminosos são manipulados com exuberância e desleixada perícia. A rapariga sabe com o saber de quem já viu, de quem já experienciou. Sabe que os dois machos imberbes, príncipes em formação, entrarão ruidosos transpirando juventude, exalando energia mal contida. Antecipa, numa previsão correta e assertiva, que essa manifestação de vida em crescimento irá incomodar os Deuses. Olha, como se visse o futuro, a imagem perturbada desses seres superiores interrompendo o seu visionamento divino. Imagina-os vertendo olhares reprovadores, primeiro para os machos imberbes, de seguida em sua direção solicitando a sua intervenção. Como a rapariga sabe, com a mestria de quem possui esse conhecimento, irá proceder em antecipação. Não  irá evitar, antes mitigar, as consequências antevistas.

 

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