Perspetivas (decima quarta…última abordagem)

Alhures alguém vigia. Ser superior a todos os nomes, entidade apenas intuída, é alma sem ser alma. Criador primordial, porque alguém tinha de desempenhar esse papel, ocorre num espaço e num tempo que cada um de nós identifica de maneira individual. Existem no entanto casos de mistificação coletiva onde, de forma organizada, se venera o espaço e o tempo moldando-o criador. Sendo omnipresente por necessidade de aceitação atua indiscriminadamente movido por vontades ocultas. As Deusas-pagãs-maiores buscam-nas nos presságios que se encontram codificados nos cetros divinos. Os Deuses-criadores-menores analisam a atuação divina e assimilam-na como norma. Utilizam os seus cetros como meio de normalizar, através de protocolos iniciáticos, o caos criativo que resulta das Ações indiscriminadas do supremo ser, suposto criador por necessidade de haver alguém que desempenhe esse papel, como atrás já foi referido. Alhures alguém vigia, frase obviamente desnecessária porque faz parte da natureza desse alguém exercer essa vigilância contínua, resulta da necessidade de uma redundância. As redundâncias são uma espécie de lembretes, o sublinhado nos livros de estudo, o Bold agressivo nas mensagens panfletárias. Esta em particular dá enfase à ação seguinte, o que acontece porque alguém vigia. Neste caso o que acontece é um apagar de luzes, um fechar de pano. Os atores desaparecem e com eles desaparece também a narrativa. O ser superior a todos os nomes, entidade apenas intuída, exerceu a sua ação indiscriminada na vontade do Deus-criador-menor, responsável pela palavra escrita. Com essa ação secou-lhe o verbo e indicou-lhe o caminho para a decima quarta perspetiva. O ecrã do portátil apaga-se e, tal como uma cocha, encerra-se sobre si mesmo. O deus-criador-menor levanta-se sem rumo tentando a comunhão apaziguadora de um cigarro. A decima quarta perspetiva dissipar-se-á no fumo nicotizado do vício…


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